Liko
corria o mais rápido que podia, subindo uma colina atrás de uma fera imensa. Estava
cansada por causa das batalhas que travara contra alguns guerreiros
anteriormente, além disso, seus poderes mágicos e sua vitalidade estavam
baixos, mas se conseguisse completar essa missão com certeza evoluiria para
algo muito mais poderoso. Empunhando seu cetro místico equipado com um tipo
raro de Kirisaly, encarou o céu da noite e buscou nas estrelas o ânimo que
começava a lhe faltar.
Chegando
ao topo da colina, a Guerreira Velkyr (sua categoria) ficou aflita por não ver
sinal da fera que perseguia. Olhou para os lados e nada, virou-se de repente e
tudo que viu foi a vasta extensão do Vale do Leste e suas centenas de elevações
banhadas pelo brilho da lua.
Para onde foi aquele Razal?, pensou.
Mas
um som acima de sua cabeça a fez olhar para cima e, para sua surpresa, Razal, a
fera carnívora do Vale do Leste vinha a uma velocidade incrível em sua direção,
cortando o ar como uma lança e fazendo um barulho absurdo ao criar um vácuo em
seu rastro. Estava a poucos centímetros do impacto quando Liko saltou para o
lado e, com um enorme estrondo, a criatura bateu no chão, levantando uma onda
de fumaça.
–
Sua sorte não durará pra sempre, Velkyr! – Rugiu a besta com uma voz demoníaca,
erguendo-se com dificuldade sobre as patas negras e musculosas. – Você falhará!
– Então uma torrente de luz avermelhada jorrou da boca de Razal em direção a
Liko e ela, tentando se defender, saltou novamente, com graça e velocidade
incríveis, girando no ar.
Porém
o cansaço imprimiu na Velkyr sua marca e em determinado momento suas pernas
fraquejaram, permitindo que o raio de Razal a atingisse antes que a fera
fechasse a boca novamente. Ela foi jogada colina abaixo, mas levantou
rapidamente. Tomou então uma das duas últimas poções que carregava e partiu
novamente para cima do inimigo, o cajado místico em punho – a ponta encrustada
de Kirisaly brilhando bravamente.
Liko
girou no ar mais uma vez. Pegando Razal quase de surpresa, conseguiu ficar
sobre ele e ainda de cabeça pra baixo, ativou seu poder especial. – Gazen ihrut BAHRL! –, recitou. E uma luz
azulada exalou da joia em seu cajado, paralisando Razal. Ao pusar ao seu lado,
Liko apontou para ele a arma que empinhava, firmou os pés no chão e recitou o
segundo encantamento: – Migen ner Razal
TRARRAD! – Nessa hora a luz azulada
que paralisava Razal sumiu, mas ele só teve tempo de piscar os olhos porque
logo em seguida um estrondoso relâmpago cor de safira saiu da ponta do cajado
místico e atingiu-o em cheio nas costelas.
A
guerreira Velkyr sentiu suas energias se esvaindo enquanto o raio empurrava
Razal com enorme violência até o pé da próxima colina, onde ele ficou fumegando
quando Liko encerrou seu assalto.
Outros guerreiros
se aproximavam para observar o combate. Liko estava com pouquíssima energia no
momento, mas a batalha ainda não se encerrara. Ela correu até onde jazia seu
inimigo e preparou-se para o golpe de misericórdia.
Razal tentou
levantar, mas suas patas cederam. Uma mancha negra jazia na lateral de seu
corpo no local atingido pelo raio mortífero de Liko. Suas asas também falharam,
pendendo molemente no dorso e na lombar. Ele rugia com dificuldade e os dentes
afiados continuavam à mostra, embora seus olhos estivessem prestes a se fechar.
– Maldita! –
Urrou Razal, atacando com um novo raio vermelho de sua boca, mas Liko rebateu-o
facilmente com um movimento de seu cajado. Os dois se encararam, exaustos, mas
dispostos a ir até o fim. – Há muito tempo eu domino as Vale do Leste, mas
nunca vi um guerreiro chegar tão perto de me derrotar como você, Velkyr.
– Você já foi
derrotado, Razal. Entregue sua essência!
– RAAAARL! – Respondeu a besta, depois
cuspiu muito sangue. – Essa área é sua, mas em breve aparecerá alguém para toma-la,
assim como você a está tomando de mim agora. – Razal fechou os olhos e seu
corpo começou a inchar, e foi crescendo cada vez mais, até que rapidamente seus
membros, sua cabeça, calda e asas ficaram ridiculamente desproporcionais.
Os sentidos de
Liko ficaram em alerta, e ela girou o cajado no ar à sua frente – a pedra de
Kirisaly deixou um rastro de luz que se solidificou, formando um escudo. Os guerreiros
correram para trás das árvores e rochas mais próximas, alarmados pela atitude
da lutadora que agora admiravam e respeitavam.
Razal então
explodiu, gerando uma onda de impacto esférica que se expandiu ao seu redor,
varrendo do ambiente rochas, criaturas pequenas e até mesmo as folhas das
árvores mais próximas. A luz projetada foi suprema – durante os poucos segundos
que durou a explosão, não foi possível enxergar nada. O som produzido foi um
zumbido grave, enlouquecedor. Liko sentiu mais uma parte de sua vitalidade indo
embora e tomou a última poção. Pediu às divindades de Shenwe que seu escudo
resistisse mais um pouco; sem ele já estaria destruída!
Enfim, no
cenário de devastação deixado por Razal, brilhava agora um grande orbe vermelho
a quase um metro do chão. Liko correu rapidamente até ele, pois sabia que se
outro guerreiro estivesse por perto a essência de seu inimigo poderia ser
facilmente roubada. Suas forças já estavam no fim quando a luz de Kirisaly em
seu cajado se apagou.
Aliviada por
não ver ninguém por perto, a Velkyr estendeu os braços e absorveu o orbe. Nesse
momento seu corpo foi tomado por uma luz intensa e sua armadura se modificou. Ela
sentiu o poder circular por todo seu ser e chegar até o cajado místico, onde
revolveu intensamente, transformando-o também.
Parabéns, Liko! Você passou de Velkyr a Deidade Média. Confira seus novos poderes e não deixe de equipá-los. Derrotando Razal
do Vale do Leste você obteve: 21
garras de Misryl, 2 mandíbulas de Misryl e
3.000 Guildes. Sua energia e sua
vitalidade foram completamente restauradas.
– Yaaaarruuuuuuul! É isso aí! A Guerreira
de Shenwe sai gloriosamente vitoriosa em mais uma batalha ééééépicaaaa...
– Liko! Ordem! Se você ficar fazendo barulho
desse jeito eu vou mandar você para a limpeza das pragas das raízes lodosas,
está ouvindo? – Reclamou uma voz feminina e antiga de outro cômodo,
aparentemente bem distante.
– Desculpa,
mãe! – Pediu Liko, ainda com a voz vibrante de felicidade. Desde que adquiriu o
simulador, suas tardes ganharam um novo sentido. Sua vida ganhou um novo sentido e nem ela mesma sabia em que nível.
Liko morava na
floresta das Árvores Gigantes de Shenwe, no planeta AefiS. Era um lugar
pacífico, onde os habitantes – na grande maioria do sexo feminino – habitavam as
copas de enormes árvores. Sua mãe, a matriarca Dalima Or, era a líder desse
povo milenar de hábitos bucólicos. O jogo Guerras Fantásticas fora presente por
seu aniversário e ela nunca se sentira tão feliz.
Quando repôs o
capacete do simulador, Liko viu um ser alado surgir no céu, planando, que depois
desceu até ela e sacou um pergaminho que trazia numa bolsa rústica em suas
costas.
– Mensagem do
Administrador – disse o mensageiro alado –, deseja ouvi-la?
– Sim, claro! –
Respondeu Liko, muito melhor agora com sua vitalidade e energia restauradas.
O mensageiro
pousou os olhos no pergaminho, desenrolou-o, pigarreou e abriu o bico dourado
para ler:
“Muito bem, guerreira! Estamos orgulhosos de
ver alguém tão novo em Guerras Fantásticas chegando tão longe. Esta é uma
saudação pessoal por seu desempenho admirável. Agora você é uma entre os três
mestres de área de G. F., então estaremos dando um jantar em BerThorna para
celebrar sua conquista para o qual somente você e os outros mestres estão convidados.
Podemos utilizar sua localização para enviar a condução? Responda até o
anoitecer no jogo por este mensageiro – eles não podem voar à noite!
Esperamos conhece-la em breve,
Equipe Guerras Fantásticas.”
–
Oh, não! – Disse Liko a si mesma, removendo o capacete do simulador e
deixando-se cair em sua cama, de boca e olhos bem abertos. – Minha mãe nunca
vai me deixar ir para tão longe!
BerThorna
era o centro comercial e político de AefiS. Assim como Shenwe, era uma das oito
grandes regiões do planeta – a mais civilizada e tecnologicamente desenvolvida –
e seu líder, Asfer, era o mais problemático de todos, envolvido em um grande
número de casos muito complexos e explicados de maneiras muito duvidosas. A mãe
de Liko, Dalima Or, era a matriarca líder de Shenwe, e tinha uma opinião muito
negativa sobre o colega político. Liko já ouvira todo tipo de história a
respeito, mas a vontade de ir conhecer a equipe desenvolvedora de Guerras
Fantásticas e saber o que a história do jogo tinha a ver com sua vida geraram
uma curiosidade que estava prestes a consumi-la!
–
Não importa, estou ficando sem tempo. Eu tenho que dar um jeito! – Concluiu. – Mãããe!
Continua...