terça-feira, 29 de abril de 2014

Tradução: "Crane your neck" - Lady Lamb the Beekeeper

"Estique o pescoço"



recomendo a versão em estúdio

Eu pressionei minha orelha contra suas costas e nem fazia uma semana que nos conhecíamos
E eu senti seus batimentos cardíacos cair como pingos de chuva num balde
Eu já tive uma ótima espinha dorsal, mas eu a negligenciei um nome
Então toda vez que eu tentava ajeitá-la eu não conseguia sua atenção
E eu posicionei a palma da minha mão sobre sua clavícula
E desejei adormecer no fundo da sua medula

Com a gentileza de um rato encolhido como uma bola
Com a gentileza de um rato até amanhã

Nós arrancamos nossas roupas, inclusive todas as nossas joias
E nós corremos de mãos dadas na época em que você trouxe à tona a fera em mim
As partes que estão dormentes, eu desejo libertá-las
E na claridade dessa noite eu me faço acreditar que eu posso dormir facilmente sozinha
Mas há uma fome sob minha pele e ela está agarrada aos meus ossos
Há uma fome de leão e ela está se alastrando pelos meus ossos
Então eu jogo meus membros pra frente feito uma árvore numa tempestade
E ando até minha cozinha e me prostro na janela

Estou calma como um carneirinho sendo guiado
Estou azul como sangue antes do sangue ficar vermelho


E como isso dói mesmo ao sol
É uma maldita piada como conseguimos nos machucar mesmo ao sol
Pois um coração bate o melhor possível numa cama, ao lado de quem ele ama
Ah, é, um coração bate o melhor possível quando, na cabeça, a morte se torna irrelevante
Porque se você está sonhando com sua morte, então você realmente não está vivendo, meu bem
Você tem que estar esfomeado, tem que estar esfomeado pra isso
E se você chora noite adentro, ao sol é melhor você erguer essa cabeça

Gire seus quadris, estique o pescoço
Dobre seu corpo pra trás

Você tem que estar esfomeado, tem que estar esfomeado pra isso

Tradução livre

domingo, 27 de abril de 2014

Auto-crítica de domingo


O acúmulo de pensamentos não resolvidos da semana que passou me deixou extremamente ansioso. As ações não concluídas e resultados a chegar também. Em meio a esse tipo de turbulência eu fico louco, desesperado. Eu quero fugir, quero uma solução imediata. Eu esqueço o que me falta e não consigo agir. Apesar de empurrar os dias com a barriga, não consigo evitar certo sofrimento. Eu me cobro demais, mas fecho os olhos para meus próprios reclames. Fico pensando em como a vida poderia ser diferente se eu tivesse tomado as decisões certas - se é que eu tomei as erradas. Danço uma valsa perigosa com as sombras de um futuro melhor, mas logo dou de cara na parede. Eu protelo e desperdiço até ficar sem tempo. Eu quero prazer, mas não faço por merecer. Produzo menos do que consumo e isso é um desfalque, um boicote a mim mesmo. Desgostosa com o presente, minha mente se agarra ao passado. A memórias criadas. Passo horas entorpecido me lembrando do que não foi. Ando relapso sobre o que quero, posso e devo fazer. Algumas poucas coisas nas quais invisto certa energia, eu faço muito bem. Mas a carência de novidades é mais um dos buracos. Eu preciso "de um retoque total". Ganhar peso, estudar mais, passar menos tempo na Internet e cumprir meus prazos. Preciso me recompensar menos pelo que eu não faço e me punir menos ainda pelo que eu deixo de fazer. Preciso lembrar, de vez em quando, que eu tenho superpoderes. Mas isso, como todos os outros primeiros passos, devem ficar pra segunda-feira.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

E a vida [acadêmica] continua!



Numa manhã dessas de volta à universidade, início de período, eu me deparo com tudo, menos animação. Isso mesmo: sem os feras, trote, ou os grupinhos perdidos que eles formam, aquele lugar adquiriu um ar de mausoléu. Mas mesmo num cemitério há flores. Há os velhos amigos, entre mortos e feridos (estando eu na segunda categoria), sempre que reacendem-se cigarros e conversas pra lá de frutíferas e filosóficas - um apelido carinhoso para "viajosas", nas quais pontos de vista são expostos em debates calorosos demais e acadêmicos de menos. Uma delícia com café. Somos todos jovens e achamos nossos fardos pesados demais, mas queremos demonstrar que os carregamos muito bem. Há maneiras bem especiais para lidar com eles.

Na sala de aula, respostas que, apesar de bem conhecidas teimam em sair diante da falta de empolgação evidente dos mestres - fator agravado pela consciência de estarmos numa segunda-feira.

domingo, 13 de abril de 2014

Uma coisa que eu escrevi voltando pra casa num domingo de manhã


A volta pra casa de manhã após uma noite longa quando seus limites foram testados é algo que eu conheço muito bem. Entre as várias coisas que eu poderia ter feito, as que atestam meu sucesso são as que eu não fiz. Estou jogando com a diversão sóbria, com a socialização seletiva e a honestidade comigo mesmo. Tolero a realidade, e até perdoo-a por não ser como eu queria, então fica fácil andar pela cidade noite adentro sem medo de fantasma. Despido das cascas de cebola, consigo entreter e seduzir. Assim vou avançando por conversas temperadas com desenvoltura e sem perder o charme. As comparações com meus antigos eus, espectros que povoam os bares onde fui em diferentes momentos da vida, são inevitáveis, porém divertidas. Por vezes escapam pela boca, mas em sua condição, esses assuntos não pertencem ao presente. No balanço do ônibus, continuo minha viagem pelo espaço-tempo enquanto minha casa se aproxima com ofertas irrecusáveis: cama, mesa e banho.