sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Cortejo, desconserto



Existe no Reino animal uma prática comum a quase todas as espécies, inclusive os seres humanos, que precede o acasalamento e é um fator determinante na escolha dos parceiros, especialmente realizada em situações macho x fêmea. Ela se dá através de um ritual, muitas vezes interpretado como dança, denominado como cortejo. Trata-se de movimentos exóticos, muitas vezes associado a sons específicos produzidos pelo macho para atrair a atenção das disputadas fêmeas de cada espécie.

Temos como exemplo o pavão que abre sua cauda exuberante em leque, entre outros que, há milhões de anos repetem o rito geração após geração, para suas parceiras em potencial.

Os seres humanos, por sua vez, criativos como são, de maneira até inexorável, também têm suas maneiras de cortejarem-se uns aos outros; seja por meio de palavras, linguagem corporal ou outras atitudes, com as quais tentam mostrar que são adequados ou os melhores parceiros potenciais para as fêmeas.

E hoje, desrespeitando minha razão e lógica, consciente de que não sou um animal irracional – leia-se como racional aquele que pode controlar seus instintos (não quero dizer com isso, permanentemente) – fui, em minha posição de macho da espécie, tentar cortejar minha fêmea. Mas ah, meus amigos, oh, meus inimigos, como fui ingênuo! Os tempos são outros, as mentes são outras e o pior: a multiplicidade das interpretações humanas é, na melhor das hipóteses, um perigo.

Ao me oferecer para pagar a conta da lanchonete (eis aqui o cortejo), fui interrompido bruscamente por minha fêmea, que em um relâmpago de fúria, negou meu gesto e, num brado retumbante, disse-me: “eu não dependo de você para nada!”.

E daí? Daí que eu fiquei pasmo, estarrecido com a situação, e liguei-me no modo automático enquanto meu cérebro guardava a informação para digerir depois do sanduíche com guaraná.

Ainda bem que era Subway! Um McDonald’s teria entupido-me as artérias e congestionado-me as sinapses!, pensei.

Ela não depende de mim para nada. Não vou me questionar a respeito do que venha a ser o nada em sua cabeça, pois o ponto aqui não é este. O que venho falar é que a ideologia feminista dos nossos tempos encontra-se em uma situação crítica de alienação que se reflete de maneira extremamente negativa nas relações interpessoais.


Ora, nem todo homem que dá um presente a sua mulher deseja subjuga-la. Nem toda mulher que se dispõe a demonstrar gratidão é submissa. Que sociedade é essa que enxerga tudo tão extremamente? Que lógica medieval é essa a do céu ou inferno, do oito ou oitenta? Não sei de mais nada.

Imagem: Peacock by jele