Existe no
Reino animal uma prática comum a quase todas as espécies, inclusive os seres
humanos, que precede o acasalamento e é um fator determinante na escolha dos
parceiros, especialmente realizada em situações macho x fêmea. Ela se dá
através de um ritual, muitas vezes interpretado como dança, denominado como
cortejo. Trata-se de movimentos exóticos, muitas vezes associado a sons
específicos produzidos pelo macho para atrair a atenção das disputadas fêmeas
de cada espécie.
Temos
como exemplo o pavão que abre sua cauda exuberante em leque, entre outros que,
há milhões de anos repetem o rito geração após geração, para suas parceiras em
potencial.
Os seres humanos, por sua vez, criativos como
são, de maneira até inexorável, também têm suas maneiras de cortejarem-se uns
aos outros; seja por meio de palavras, linguagem corporal ou outras atitudes, com
as quais tentam mostrar que são adequados ou os melhores parceiros potenciais
para as fêmeas.
E hoje,
desrespeitando minha razão e lógica, consciente de que não sou um animal
irracional – leia-se como racional aquele que pode controlar seus instintos
(não quero dizer com isso, permanentemente) – fui, em minha posição de macho da
espécie, tentar cortejar minha fêmea. Mas ah, meus amigos, oh, meus inimigos,
como fui ingênuo! Os tempos são outros, as mentes são outras e o pior: a
multiplicidade das interpretações humanas é, na melhor das hipóteses, um perigo.
Ao me oferecer
para pagar a conta da lanchonete (eis aqui o cortejo), fui interrompido
bruscamente por minha fêmea, que em um relâmpago de fúria, negou meu gesto e,
num brado retumbante, disse-me: “eu não dependo de você para nada!”.
E daí? Daí
que eu fiquei pasmo, estarrecido com a situação, e liguei-me no modo automático
enquanto meu cérebro guardava a informação para digerir depois do sanduíche com
guaraná.
Ainda bem que era
Subway! Um McDonald’s teria entupido-me as artérias e congestionado-me as
sinapses!, pensei.
Ela não
depende de mim para nada. Não vou me questionar a respeito do que venha a ser o
nada em sua cabeça, pois o ponto aqui não é este. O que venho falar é que a
ideologia feminista dos nossos tempos encontra-se em uma situação crítica de
alienação que se reflete de maneira extremamente negativa nas relações
interpessoais.
Ora, nem
todo homem que dá um presente a sua mulher deseja subjuga-la. Nem toda mulher
que se dispõe a demonstrar gratidão é submissa. Que sociedade é essa que
enxerga tudo tão extremamente? Que lógica medieval é essa a do céu ou inferno,
do oito ou oitenta? Não sei de mais nada.
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