segunda-feira, 24 de junho de 2013

Desírio - Canções de Obsessão

Ando escrevendo ficção novamente. Aqui está o capítulo um dessa história que eu ainda nem sei para onde vai. No meio do capítulo 5 é que me lembrei do blog.
É sobre um garoto que se entrega a sua obsessão de
stalkear um colega de classe. Assim ele explora seus limites e sua imaginação. Trata-se de um passeio pela mente de um adolescente dos nossos tempos sob circunstâncias relativamente inconvencionais.Inspirado em Aku no Hana e O Retrato de Dorian Gray.



UM – IDENTIDADE SECRETA

Eram onze da noite quando Desírio decidiu que cederia completamente aos seus instintos, suas pulsões. Acabara de fumar um cigarro todo amassado que trazia no bolso, o último da carteira, pelo que lembrava. Estava na frente de sua casa e o ar gélido da noite enchia seus pulmões. Voltando de uma festa meia-boca, refazia seus passos mentalmente à procura de qual havia sido o lucro do esforço de arrumar-se, sair, gastar grande parte do pouco dinheiro que tinha e desperdiçar tempo e energia desgastando sua mente e seu corpo com substâncias legalmente impróprias para sua idade. Perguntou-se, pela milésima vez, por que fazia tudo aquilo. As pessoas o viam, conheciam e esperavam naquele tipo de lugar e evento porque já haviam montado uma imagem sua nas cabeças e aparentemente ele não tinha mais valor que as músicas que tocavam ou os cortes de cabelo que seus amigos faziam.

Por falar nisso, vários cortes de cabelo atrás ele mesmo vinha se cansando da maratona de conversas forçadas com frases feitas e risadas excessivamente barulhentas ao redor das mesmas pessoas com os assuntos de sempre. Sexo. Era tudo sobre sexo. Todos ali só queriam que um lugar quente e úmido fosse preenchido. Todos nós somos vermelhos por dentro.

Havia perdido a fé no mundo e nas pessoas, portanto desejou mortalmente um remédio, uma razão para viver. Algo pelo que acordar no dia seguinte e levar uma vida menos dispendiosa e questionável. Assim como os animais. Assim como a flor que brotava discretamente no canteiro abaixo da janela de seu quarto.

Quando entrou em casa, fechou a porta da sala para o sol que começava a surgir às suas costas. Todos estavam dormindo e os móveis exalavam seus cheiros de madeira e ácaro. Até a tinta nas paredes parecia se divertir na ausência das pessoas. Nessa ocasião ele pôde sentir o próprio cheiro e, consequentemente, nojo de si mesmo. Iria deitar pelo bem do que fosse, e no dia seguinte, após o banho, seria outra pessoa.