sexta-feira, 3 de maio de 2013

Querido B.



Achei bastante curiosa sua pergunta sobre como eu estou. Há uma infinidade de respostas possíveis, portanto diante da plenitude de opções, vejo-me acossado. Tenho mesmo é que tentar entender o que você espera (ouvir) de mim. Não digo que estou “bem” porque seria grosseria, falsidade e pieguice de minha parte. Digamos que atualmente (e aqui começa minha suposição) eu seja um corpo num universo de responsabilidades impostas por mim mesmo, cujo centro gravitacional – o núcleo – é o cérebro, e não mais aquele coração selvagem à la Yoko Kano. A massa que se agrupa ao redor desse núcleo é composta por pedaços que morrem de medo de uma nova separação. A atmosfera é composta não por gases, mas por limites semelhantes àqueles cercadinhos para bebês. Detrás dela lanço um olho ao futuro, fisgando expectativas com as quais durmo e acordo. O outro olho vislumbra uma vida de prazeres apenas sonhada, uma sopa de lembranças e esperanças (muito quente!) da qual arrisco sorver pequenas quantidades com um bico hesitante. Devido à instabilidade do clima na minha superfície, ainda não posso – nem poderei tão cedo – ser habitado. Talvez eu possa dizer que estou pós-apocalíptico. Eis uma das minhas respostas favoritas à sua indagação. Espero e creio que estejas melhor que isso e melhor que antes.

Sempre seu,
O.

Imagem: PEYTON Elizabeth, Oscar and Bosie, Eve, Paris (1998)

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