quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Patologia

Shadow Self por ~lackofa


Nascido dos vestígios putrefatos na cavidade vazia onde antes houvera um coração a bater, que foi arrancado bruscamente e comido pela mais temível das bestas, um ser desenvolveu-se dentro de outro.

Ele cresceu e tomou forma com o passar dos dias, alimentando-se de seu hospedeiro, consumindo-lhe as forças e minando-lhe as faculdades mentais indiscriminadamente, causando-lhe grande dor, como um parasita.

A despeito de todas as tentativas, de todos os métodos, da respeitável força de vontade do hospedeiro ante ao diagnóstico de um corpo maligno em sua alma que só crescia e lhe enfraquecia, o parasita sobreviveu a tudo.

Quando o corpo começou a padecer por causa do tratamento, quando a mente se viu encurralada no labirinto onde estava presa com um monstro, o homem desistiu. Haveria de manter - ou buscar obstinadamente - um equilíbrio: aprender a viver com suas limitações, impostas pela doença.

Então viria o fim da negação, o fim das tentativas de parecer normal diante das outras pessoas. Abraçaria sua inadequação e tiraria dela o que fosse possível para sustentar-se de pé. Já que não conseguira desprover de sentido a existência do demônio dentro de si, atribui-lhe-ia uma nova razão de ser.

Com isso em mente, todas as falhas do passado, os caminhos errados e a volta por eles para encontrar a estrada de tijolos amarelos, as feridas que se abriram na travessia, os ossos quebrados e tudo mais que mudou em consequência da falta de luz adquiriu uma aura promissora.

Reconhecer as dores como reais e viver com uma promessa de cura é muito melhor do que ser um ator decadente no papel de um herói.

por Gilson França

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