Segundo Charlie, o personagem
principal, uma obra em si pode até ser “muito interessante”, mas não é “muito
boa” a menos que te faça sentir diferente no fim. E foi assim que eu me senti nesta
segunda-feira quando terminei a leitura deste livro magnífico. Quando comecei a
lê-lo, não gostei muito porque achei o protagonista bobo, meio retardado. Mas
aí fui levando em consideração o contexto: um garoto de quinze anos no ano de
1991. Depois pensei em como eu pensava quando eu tinha quinze anos (não muito diferente). Depois fui entendendo
as questões propostas pelo autor, e me encantando cada vez mais com a doçura e
simplicidade com que ele me cativava a cada página, a cada carta. Sim, pois The Perks of
Being a Wallflower é um romance epistolar. Um romance epistolar! Em 2013! E, por Deus, é maravilhoso!
Não é segredo para ninguém que eu
sou fascinado por adolescentes, digo, por seu modo de vida e psicologia. Há
muito tempo acompanho assiduamente filmes e livros com essa temática. Também
não considero interessante (a princípio) histórias que não contenham, no
mínimo, um desses três elementos: sexo, drogas, violência. Simplesmente porque
a vida é assim. E As Vantagens de Ser
Invisível tem todos! E não precisou ser um Skins pra isso.
Muitas vezes a inocência de
Charlie me lembrou de Brian Lackey do drama Mysterious
Skin (Mistérios da Carne), de 2004 – inclusive pela minha suspeita latente
de que algo muitíssimo importante havia marcado seu passado (e como eu estava
certo!). Outras tantas me lembrou Zac Beaulieu, de C.R.A.Z.Y. (Loucos de Amor), de 2005 – tanto por seu aniversário
ser no dia 24 de dezembro e da relevância desta data na história com seu
contexto ironicamente religioso e um acontecimento em um de seus aniversários,
quanto por ele ser o mais novo de uma família (um pouco) numerosa, e ainda mais
pelo modo como suas descobertas sexuais são exploradas. Mas Charlie é mais do
que a carga genética de Brian e Zac (talvez ele tenha sido pai dos dois, visto
que o romance foi escrito em 1999) misturada. Há algo de perturbador, de inquietante
e ao mesmo tempo com um efeito de morfina a seu respeito que pega o leitor num
laço quase impossível de se soltar.
O filme eu ainda não vi, mas cheguei
a ouvir a trilha sonora (enquanto lia!), e fez todo sentido, porque as músicas
combinam com os gostos dos personagens. Apesar de viverem na década de 90, eles
gostam de músicas de épocas anteriores. Asleep
(1987), de The Smiths que o diga! E
dá-lhe intertextualidade, pois Chboski dialoga com maestria menções a obras
literárias dos séculos XIX e XX (fora Hamlet, lógico) conhecidas por muitos de
nós com seu texto: O Grande Gatsby de
Fitzgerald, Pé na Estrada de Kerouac e O
Apanhador no Campo de Centeio (cujo protagonista se chama Holden Caulfield,
este sim seria um bom candidato a pai literário de Charlie) de Salinger. É bom
levar em consideração que este último é lido várias vezes por Charlie em uma
fase difícil em sua vida, quando ele “não queria pensar”. Os livros são recomendados
por seu professor de Língua Inglesa Avançada e têm uma grande razão de ser na
história, inclusive a ordem em que aparecem – mais um ponto para o autor!
Com uma linguagem simples, mas
muitíssimo bem articulada e com justificativas plausíveis para as escolhas do
autor, as cartas de Charlie para um leitor desconhecido (que na verdade você
acaba descobrindo que conhece bem até
demais) são cativantes e emocionam por nos proporcionar o prazer de ler um
bom romance através da revelação de “pensamentos secretos [...] [que são
negados] ao historiador, ao biógrafo e até mesmo ao psicanalista”, e nos dando
“conhecimento sobre o coração humano, ou sobre a mente humana” (David Lodge). A
narrativa é envolvente porque enche o leitor de dúvidas, mas são perguntas
complexas que se alojam em um nível mais profundo da mente durante a leitura e
vão se acomodando e transformando à medida que se avança pelos parágrafos. O
texto também me conquistou causando bastante empatia – a sacada de Charlie
dizer que está dando nomes falsos foi de longe genial; ele e os amigos podem
ser qualquer um de nós. Muitas vezes eu vi minha vida ser narrada ali e sob uma
ótica incrível. Sem contar com os momentos poéticos do texto em que o autor
utiliza metáforas, jogos de palavras (muitos presentes inclusive na tradução de
Ryta Vinagre, para a Rocco), mesmo um poema completo está incluído – sem título,
que eu achei lindíssimo e que merece uma análise exclusiva posterior –, fora os
trechos à la Sra. Dalloway de
Virgínia Woolf ou Ulysses de James
Joyce, em que Charlie praticamente derrama seus pensamentos nas cartas sem sequer
se dar o trabalho de organizá-los, num monólogo interior ou fluxo de consciência
(que está mais pra fluxo de inconsciência,
quem ler entenderá o motivo). Um dos pontos altos da narrativa é quando Charlie
tem suas epifanias, que são momentos de revelação quase transcendentais que
“brotam” de coisas simples como uma passagem de carro sob um túnel em que ele
revela aos amigos sentir-se “infinito”.
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