domingo, 5 de março de 2017

Sleeplessly embracing


     Silenciosamente como um gif de filme pornô em câmera lenta. O céu lá fora estava cinza ao por do sol de uma tarde fria. Dentro de casa, sentia seus músculos pesados e moles como tentáculos gigantes de um molusco morto. Pendiam mãos e canelas da beira do colchão exposto - aquele lençol nunca passava uma única noite arrumado. Vários inícios de ideias geniais vinham à sua mente, mas aprofundar-se nelas era uma tarefa igual a pegar fumaça com as mãos. À medida em que a terra girava, notas sombrias vinham do tique-taque do relógio. Uma sensação de impotência se espalhava e se apoderava de seu corpo, fazendo-lhe afundar ainda mais em seu colchão. Fazendo-lhe encolher-se e esconder-se em seus lençóis. Era a existência que se recusava a existir.

     Vinha o sono. Durante o sono todas as dores de ser eram amenizadas. Sua mente se enchia de sensações agradáveis, ilusões mornas projetadas por seu cérebro. Aqui e ali um desejo subconsciente se realizava na ficção onírica, um fluxo prazeroso porém frágil.

     Enquanto sua cabeça era palco de devaneios diversos, o resto do corpo se aninhava como um filhote. Estava preso no campo magnético do desejo de se livrar de todas as aflições pertinentes que maculavam seu momento de procrastinação.

     Teve que se levantar ao som do despertador pelo que seria a milionésima vez. A noite passou tão rápido. Não deu pra descansar nada. A disposição das coisas naquela casa ia contra qualquer conceito de praticidade. As portas pareciam se deslocar um pouco demais para a direita ou esquerda. Pequenas frustrações que lhe matavam pouco a pouco todos os dias. Correndo numa esteira diariamente sem perder nenhum peso, andando num círculo vicioso, uma bola de neve. A impressão de se deslocar tanto pela cidade, indo e vindo para casa, era uma angustia esmagadora: como poderia andar tanto e nunca chegar a lugar nenhum? Esforços excessivos para resultados insignificantes se repetiam. Uma sucessão de eventos que lhe faziam pensar: "eu não acredito que estou fazendo isso". Lembrava-se de que já houve dias em que todas aquelas tarefas eram feitas com alegria, como seu coração se enchia de satisfação ao concluí-las. O rádio do cérebro toca seu tema mais incômodo: "When love is gone, where does it go? And where do we go?"

     Queria fugir da repetição. Queria romper o ciclo, mas mais uma vez vinha aquela penumbra, a sombra de todas as coisas ao fim do dia, no pôr do sol, que avançava sobre si de maneira opressora. Um tsunami quebrando sobre sua cabeça.

     Logo o banho quente, o pijama com seu cheiro adormecido e a taça de vinho acompanhada de uma barra de chocolate, suas músicas independentes que faziam a mente viajar, tudo isso como uma orquestra fazia tudo parecer perfeito, e que viver era aquilo. O sono vinha e era recebido com um abraço, uma passagem de trem por planícies esverdeadas onde eventualmente se via um pequeno lago. Estava tudo ali.

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