Ando escrevendo ficção novamente. Aqui está o capítulo um dessa história que eu ainda nem sei para onde vai. No meio do capítulo 5 é que me lembrei do blog.
É sobre um garoto que se entrega a sua obsessão de stalkear um colega de classe. Assim ele explora seus limites e sua imaginação. Trata-se de um passeio pela mente de um adolescente dos nossos tempos sob circunstâncias relativamente inconvencionais.Inspirado em Aku no Hana e O Retrato de Dorian Gray.
UM – IDENTIDADE SECRETA
Eram onze da noite quando Desírio
decidiu que cederia completamente aos seus instintos, suas pulsões. Acabara de
fumar um cigarro todo amassado que trazia no bolso, o último da carteira, pelo
que lembrava. Estava na frente de sua casa e o ar gélido da noite enchia seus
pulmões. Voltando de uma festa meia-boca, refazia seus passos mentalmente à
procura de qual havia sido o lucro do esforço de arrumar-se, sair, gastar
grande parte do pouco dinheiro que tinha e desperdiçar tempo e energia
desgastando sua mente e seu corpo com substâncias legalmente impróprias para
sua idade. Perguntou-se, pela milésima vez, por que fazia tudo aquilo. As
pessoas o viam, conheciam e esperavam naquele tipo de lugar e evento porque já
haviam montado uma imagem sua nas cabeças e aparentemente ele não tinha mais
valor que as músicas que tocavam ou os cortes de cabelo que seus amigos faziam.
Por falar nisso, vários cortes de
cabelo atrás ele mesmo vinha se cansando da maratona de conversas forçadas com
frases feitas e risadas excessivamente barulhentas ao redor das mesmas pessoas
com os assuntos de sempre. Sexo. Era tudo sobre sexo. Todos ali só queriam que
um lugar quente e úmido fosse preenchido. Todos nós somos vermelhos por
dentro.
Havia perdido a fé no mundo e nas
pessoas, portanto desejou mortalmente um remédio, uma razão para viver. Algo
pelo que acordar no dia seguinte e levar uma vida menos dispendiosa e
questionável. Assim como os animais. Assim como a flor que brotava
discretamente no canteiro abaixo da janela de seu quarto.
Quando entrou em casa, fechou a
porta da sala para o sol que começava a surgir às suas costas. Todos estavam
dormindo e os móveis exalavam seus cheiros de madeira e ácaro. Até a tinta nas
paredes parecia se divertir na ausência das pessoas. Nessa ocasião ele pôde
sentir o próprio cheiro e, consequentemente, nojo de si mesmo. Iria deitar pelo
bem do que fosse, e no dia seguinte, após o banho, seria outra pessoa.
Imagem: Keen-eyedby =wind-princess